Emergência e Caridade em tempo de COVID-19
Queridos irmãos e irmãs,
Estamos perante uma emergência devido ao Coronavírus.
Emergência, palavra de origem latina emergere, refere-se a um evento imprevisto que surge diante de nós e requer atenção.
Para nós, as emergências não são uma novidade. Todos os anos sofremos com terremotos, furacões, inundações, secas e doenças. A atual emergência do Covid-19 chama-se pandemia, a partir de duas palavras gregas: “pan”, que significa “todos” e “demo”, que significa “povo ou população”. A pandemia atinge todas ou quase todas as pessoas.
Podemos dizer que o Covid-19 é uma emergência geral ou universal. Atinge-nos a todos. E requer uma resposta por parte de todos.
Durante as emergências, pensamos instintivamente antes de tudo em nós mesmos, nas nossas famílias e nas pessoas que estão perto de nós. Faremos tudo o que pudermos para os proteger. Apesar de ser uma reação fundamentalmente boa, devemos estar atentos para não pensarmos só em nós mesmos.
Devemos evitar que o medo nos torne cegos às necessidades dos outros, necessidades que são as mesmas que as nossas. Devemos evitar que a ânsia mate a autêntica preocupação pelo próximo. Numa emergência, emerge também o verdadeiro coração de um. De uma emergência que atinge todas as pessoas (pandemia) esperamos ver uma emergência pandémica de cuidados, compaixão e amor.
Uma crise de emergência que surge inesperadamente só pode ser enfrentada com uma idêntica “erupção” de esperança. A difusão pandémica de um vírus deve produzir um “contágio” pandémico de caridade.
A história julgará a nossa geração com base na força do amor desinteressado que nesta emergência comum será gerado e será difundido, ou, então, teremos falhado!
Agradecemos às pessoas heroicas cujo amor e coragem já foram fontes de curas e de esperança nestas últimas semanas.
Os especialistas dizem que devemos lavar as mãos para evitar o contágio do vírus e evitar a sua difusão.
No Processo de Jesus, Pôncio Pilatos “mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: ‘Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. A responsabilidade é vossa!’ (Mateus 27, 24).
Devemos lavar as mãos, mas não como Pilatos. Não podemos lavar as mãos da nossa responsabilidade para com os pobres, os idosos, os desempregados, os refugiados, os sem abrigo, os profissionais da saúde, todas as pessoas, da Criação e das gerações futuras.
Rezemos, através da força do Espírito Santo, para que possa surgir um amor genuíno em todos os corações humanos para enfrentar esta emergência comum.
Cardeal Luís António Tagle
Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e presidente da Caritas Internationalis