Pemba na luta contra o COVID-19 e terrorismo
Pemba: 1 ano depois do ciclone Keneth
São fáceis de identificar as fragilidades em alguns países fora da Europa quando se falar de propagação do Coronavirus. Há cenários e evidências que chegam à Europa por via de diferentes vozes. Moçambique é um desses países a braços com a angustia de proteger a população desta pandemia.
Em Moçambique 70% da população vive na zona rural. Há Famílias com 10 pessoas que vivem em abrigos de duas divisões, em aldeias e comunidades onde tudo se partilha. Este é o grande desafio. Como fazer chegar a informação correta como forma de prevenção? Isto sem referir os locais que são inacessíveis devido aos ataques de terroristas, como é o caso da província de Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique.
“Como vamos dizer às famílias para ficarem em casa nestas situações?” A questão é levantada pela Cáritas Diocesana de Pembra que se mantém ao lado da população.
Atualmente, segundo dados do Governo de Moçambique, de fevereiro de 2020, existem 156.000 pessoas afetadas, incluindo pessoas deslocadas internamente, na província de Cabo Delgado desde outubro de 2017. Destas 12.000 crianças enfrentam dificuldades no acesso à escola, também de acordo com as autoridades provinciais. Neste momento registaram-se 437 casos de cólera identificados a 4 de março nos distritos de Ibo, Mocimboa da Praia e Macomia, que estão em tratamento.
A situação atual
Desastres naturais, como o ciclone Kenneth, em abril de 2019, e ataques de grupos armados no nordeste de Moçambique, iniciados em outubro de 2017, resultaram na destruição de aldeias, empresas, casas e outras infraestruturas sociais, mas principalmente, percebe-se um aumento dos ataques aos órgãos do governo, como sedes de distritos, postos de polícia, e isto resulta num tendência de deslocamento contínuo em Cabo Delgado.
Com muitos deslocados internos alojados em casa de familiares, amigos e vizinhos, o que resulta numa pressão adicional sobre recursos já escassos. Muitos deslocados internos são vulneráveis e enfrentam problemas críticos de proteção, incluindo a exposição à exploração e abuso sexual.
Devido à crescente insegurança, bem como às chuvas e inundações sazonais que destruíram as estradas e pontes, os deslocados estão a lutar para ter acesso a alimentos, água potável, assistência médica, escolas e outros recursos críticos em áreas de deslocamento.
“Os agentes humanitários estão a fazer tudo para chegar a estas áreas para identificar e ajudar as populações vulneráveis, porém o governo tem dificultado o nosso acesso e estamos a enfrentar diversos desafios nesse sentido.” O testemunho chega da Cáritas Diocesana de Pemba que se mantém, como resposta da Igreja Católica, ao lado da população procurando minimizar as suas dificuldades.
“Em resposta à pandemia global do COVID-19, os funcionários da ONU saíram temporariamente das áreas rurais de Cabo Delgado, exceto aqui em Pemba, a capital da província. As populações afetadas que ainda estão nestes locais, contam com o apoio dos missionários da Igreja Católica que permanecem nesses locais e que junto com os voluntários fazem o trabalho nas Cáritas Paroquiais.”
Atualmente, alguns dos distritos com um número significativo de deslocados internos só podem ser alcançados por via aérea ou marítima. As questões logísticas são agravadas por severas restrições orçamentais, o que significa que as agências da ONU e das organizações humanitárias têm acesso limitado aos mais vulneráveis.
O que a Cáritas e a Igreja estão a conseguir fazer
A Igreja permanece nesses locais críticos, através dos padres, religiosos/as e missionários/as que estão a executar as ações da Cáritas, com a distribuição direta de alimentos e sementes para a agricultura.
A Cáritas recebeu, na última semana, uma doação de alimentos distribuir na próxima semana aos deslocados que estão em Pemba. “Também conseguimos aprovar dois projetos para apoio aos deslocados. Um com a Cáritas Espanha, que com fundos próprios vai possibilitar a aquisição e distribuição de 580 Kits alimentares ao mesmo número de famílias durante 2 meses. Outro projeto aprovado é com fundos da USAID e que possibilitará a distribuição de materiais de abrigo, água e saneamento a 500 famílias deslocadas.”
“Estamos a enfrentar muitas dificuldades, o que já estava uma situação terrível devido aos ataques no norte e nordeste do país, agora com a pandemia se intensificou a um nível que não conseguimos mensurar. As famílias que já viviam em situação de vulnerabilidade devido principalmente a falta de acesso a alimentos, água potável e que tinham uma educação e saúde precárias, agora com o isolamento social e a restrição de movimentação estão em situação de extremo risco.”
O governo emitiu um decreto de emergência e isso possibilitará diversas medidas, entre elas o apoio internacional. Contudo, são muitas as dificuldades nas zonas urbanas em assegurar o cumprimento das medidas. A informalidade é o que predomina em Moçambique como forma de sustentabilidade, os mercados devem implementar as medidas e restringir o acesso, isso não é difícil de se fazer em supermercados fechados, mas e os mercados de rua a céu aberto, que estão em cada bairro?
Ou os serviços como táxi moto que estão proibidos de circular, os transportes coletivos que antes transportavam de 20 a 30 pessoas e com o decreto devem transportar no máximo 8 pessoas.
“São exemplos de formas comuns de receita em Moçambique e que agora as pessoas estão restringidas de fazer, e não há apoio governamental como transferência de renda ou algo do género”, explica a Cáritas de Pemba.
“Se antes tínhamos uma situação de fome com os deslocados que deixaram suas machambas e vieram para a cidade, agora, aqueles que os acolheram em suas casas também não tem fonte de rendimento para alimentar a famílias e os parentes deslocados. Isso parece que é uma bola de neve que não tem fim.”
A Cáritas Portuguesa acompanha o trabalho da Cáritas Moçambicana na resposta às vitimas das cheias e dos ciclones Idai e Kenneth, em março e abril de 2019. Depois da campanha de angariação de fundos que permitiu iniciar um trabalho particularmente focado na segurança alimentar e na recuperação de meios de vida.
Recorde-se que depois da devastação provocada pelos ciclones, estima-se que a taxa nacional de pobreza, nas áreas afetadas, esteja neste momento em 64%, podendo subir até aos 79%. Atendendo à ação desenvolvida através da campanha “Cáritas Ajuda Moçambique” a participação da Cáritas Portuguesa integrou um projeto global, coordenado pela Caritas Internationalis, no valor de 450 mil euros, num apoio que se estima que chegue a mais de 5 mil famílias, em três linhas de atuação: agricultura e meios de subsistência; água e saneamento; habitação.
Conheça todo o nosso trabalho em Moçambique e como poderá ajudar: https://caritas.pt/caritas-ajuda-mocambique/