A Laudato Si não é apenas um documento sobre ecologia
Cardeal Luis Antonio Tagle abre Ano da Laudato Si na UCP
Este documento deverá sempre ser visto como uma contribuição para o Pensamento Social Cristão.” A afirmação é do Cardeal Luis Antonio Tagle que esta manhã participou na sessão de abertura do Ano da Laudato Si, promovido pela Universidade Católica em parceria com a Cáritas Portuguesa.
Lembrando que o próprio Evangelho exige uma leitura social e uma visão global sobre a humanidade, o presidente da Caritas Internationalis, lembra que um dos principais desafios que o Papa Francisco coloca ao publicar a encíclica Laudato Si e, principalmente, agora ao incentivar à celebração do Ano Laudato Si, é a abertura e a participação na renovação da sociedade através de uma visão global sobre a humanidade, a sua dignidade e a divisão dos bens.
Dirigida a todos os homens e mulheres de boa vontade e não apenas cristãos, a encíclica Laudato Si convida à multidisciplinariedade e o debate deve ser feito também entre todos à luz do Pensamento Social Cristão. “Laudato Si é um convite às pessoas para o debate, a discussão e à investigação através de uma na leitura do Bem Comum e da dimensão universal da sociedade”, sublinha o Cardeal Tagle, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos.
Numa intervenção simples e clara, baseada em cinco pontos de abordagem a este documento do Papa Francisco que cativou o interesse e a convergência de muitos sectores, Luis Antonio Tagle, falou da importância de se olhar o mundo como um dom oferecido à humanidade , mas lembrou que para podermos receber e usufruir da dimensão global deste “dom” são necessária mudanças de mentalidade: “Laudato Si ajuda-nos a descobrir a importância e o emergir do “dom”. A nossa mente está habituada a olhar para as coisas numa perspetiva utilitária, pragmática. O que posso fazer com isto?! E até mesmo com as pessoas, pensamos sempre em quê que esta pessoa me pode ser útil? O que posso fazer contigo? Mas, na Laudato Si, cada pessoa e cada coisa são um “dom”, um “presente” e uma vez que quem oferece é Deus, o Criador, cada criatura tem um valor, mas não é o valor que nós colocamos ou decidimos, mas sim o valor que Deus lhe deu.”
Como um presente é algo que nós não queremos destruir ou estragar, Francisco lembra-nos de que não devemos acolher a cultura do descartável. “Parece que nos últimos tempos tudo nos parece um peso e não um presente”, afirmou o Cardeal Tagle para lembrar uma outra leitura que considerou fundamental quando se fala e comenta sobre a Laudato Si, a importância de fazer circular os dons. “A partir do momento em que um presente é guardado para si próprio, sem ser partilhado, então deixa de ser um “dom” e nesta perspetiva podemos avaliar a nossa forma de viver, de trabalhar, de comunicar… o nosso sistema económico, financeiro, político… será que promovem a partilha de dons?” interroga.
O Cardeal Luis Antonio Tagle, a falar para uma audiência de 114 pessoas, sublinhou ainda a importância de cada ser humano se olhar e de entender a sua presença no mundo como criatura de Deus e não como o próprio Deus, “o nosso papel é ser cuidadores da criação, mas infelizmente, esquecemos esse papel e vivemos na ilusão de que somos donos da Terra”. Lembrando o trabalho da Cáritas na defesa dos migrantes e refugiados, sublinhou o facto de ainda hoje haver muitos homens e mulheres que se sentem donos de outros seres humanos e falando no contexto da pandemia que o mundo atravessa, sublinhou que esta nova realidade que o mundo vive será mais uma oportunidade de a humanidade compreender que “não fomos criados à imagem de Deus para podermos ter o poder de destruir a criação e sobretudo os outros seres humanos, mas de ser cuidadores.”
Tudo isto nos deve levar à celebração da vida e da grandeza do Senhor na criação, celebrar cada pessoa, cada nascer do sol… e nesta pandemia, porque passámos muito tempo fechados, começámos a sentir a falta destas coisas pequenas… e esta pandemia ajuda-nos a dar valor às coisas pequenas… somos desafiados a cuidar do mundo e a começar pelos pequenos gestos quotidianos.”
Despertar nos jovens e neste contexto, de forma particular nos estudantes universitários, a capacidade de dar graças pelas coisas pequenas, foi precisamente um dos conselhos que deixou à audiência desafiando a Universidade Católica e a Cáritas Portuguesa a levaram mais longe esta sua parceria combinando a experiência de terreno que a Cáritas pode dar ao mundo universitário e este a levar o estudo da Laudato Si a todas as disciplinas curriculares. “Uma coisa que a Laudato Si pode fazer por nós é perceber que este cuidado faz parte da nossa dimensão cristã. Que a Laudato Si possa ser estuada à luz de todas as matérias do conhecimento de modo a que todos possamos trabalhar juntos. Ninguém nem nenhuma disciplina poderá fazer este trabalho isoladamente. Por isso o Papa Francisco pede que haja um debate comum, uma discussão alargada, com muita paciência. É também importante ouvir e conhecer as experiências de quem não tem uma visão cristã do mundo, as outras religiões, por exemplo.”
Depois de assinalado o quinto aniversário da Encíclica ecológica e social Laudato Si, o Papa Francisco convidou “todos os homens de boa vontade para tomar conta da nossa casa comum e dos nossos irmãos e irmãs mais frágeis”. Desta forma Francisco desafiou à celebração de um ano especial dedicado à ‘Laudato si’ promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé).
Em ordem a um compromisso público comum de sustentabilidade global, a Universidade Católica Portuguesa convidou o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e Presidente da Caritas Internationalis, Luis Antonio Tagle, para presidir à Sessão de Abertura do Ano Laudato si’ na UCP, com um programa a decorrer até 24 de maio de 2021. Uma iniciativa que conta com a parceria da Cáritas Portuguesa e que irá promover a reflexão da Encíclica Laudato Si, à luz daquilo que foi o desafio de Francisco: “um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade” que consigam resistir ao “avanço do paradigma tecnocrático”.