Cabo Delgado: “as pessoas chegam desesperadas”
Cabo Delgado: “As pessoas chegam desesperadas”
O relato dos acontecimentos vividos em Cabo Delgado que chegam à Cáritas Portuguesa através do testemunho de Betinha Ribeiro, responsável de programas na Cáritas Diocesana de Pemba, Moçambique:
“A situação de Cabo Delgado está muitíssimo complicada. A população de Palma está a chegar… por via aérea e por via marítima através dos barcos. Num primeiro momento chegaram 1200 pessoas e foram chegando mais e mais pessoas e estão a chegar debilitadas, desesperadas. Algumas crianças e idosos chegam desacompanhados. Tive oportunidade de conversar com um dos idosos que chegou ontem ao aeroporto, porque a Cáritas está lá e dando um kit… que não é grande coisa, mas dá para ajudar um pouco a pessoas que passam dois ou três dias sem comer nada.”
Neste momento a Cáritas está a distribuir um kit de alimentação básico que é comporto por 2 garrafas de água e 2 pacotes de bolachas.
Na terça-feira, dia 30 de março, foram recebidas perto de 100 pessoas em dois voos, pela equipa que a Cáritas tem no aeroporto e que é constituida por técnicos e por ativistas. Em conjunto com as Nações Unidas e com outras organizações, a preocupação de todos é que possa haver uma resposta de acolhimento para estas pessoas que fogem dos ataques constantes. “Todos estamos atentos para tentar ajudar, porque as pessoas não param de chegar. Hoje (quarta-feira, 31 de março) espera-se a chagada de um barco com mais 1 200 pessoas e por via do aeroporto ainda estão a chegar pessoas e vão continua a chegar porque a situação continua.”
Betinha Ribeiro, Responsável de Programas da Cáritas Diocesana de Pemba, fala de uma situação que está ainda a ser vivida muito intensamente em Palma relatando a existência de disparos. “Há ainda disparos em Palma. Houve uma equipa de jornalistas que quis ir lá para conhecer e tirar alguma informação a situação, mas não conseguiram trabalhar porque ouviam-se disparos.”
Para além da situação das familias que conseguem fugir esta responsável da Cáritas Diocesana de Pemba fala das famílias de quem nada se sabe. “Há muita família desaparecida, houve mortos que nós não temos informação muito clara porque não está a fluir… a informação que estamos a ter é de forma muito isolada. Mesmo o governo não diz nada em relação a esta situação.”
O abrigo é um dos principais dramas para aqueles que estão a chegar. Neste momento não há capacidade de acolher e abrigar as pessoas que estão a chegar e que ainda não têm sítio para ficar. “Até ontem à noite estavam espalhadas pelo aeroporto e algumas estão no porto, de Pemba.” As necessidades são, por isso muitas: “Há necessidades, grandes necessidades neste momento. As pessoas chegam sem abrigo, não têm onde se acomodar, chegam com a peça de roupa que está no corpo e não têm alimento. São as mesmas necessidades que já tivemos para os primeiros casos que vivemos aqui na província. Estamos a pedir apoio principalmente de alimento. Pedimos a todos os de boa-fé que olhem para Pemba.”
Conheça todo o trabalho da Cáritas em Moçambique: https://caritas.pt/caritas-ajuda-mocambique/