“Estamos aqui!”
Ataques em Cabo Delgado aumentam de intensidade, alastram no território e ajudas estão a diminuir.
D. António Juliasse, bispo da Diocese de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, em Moçambique, esteve recentemente em Portugal e visitou a Cáritas Portuguesa onde tivemos oportunidade de conversar sobre os projetos que a Cáritas implementa naquele país, em parceria com a Cáritas Portuguesa e outras organizações, mas também e com muita preocupação sobre a realidade e os muitos desafios que a população local enfrenta.
Recentemente os ataques terroristas que têm fustigado a população daquela região voltaram a ser notícia depois do atentado que matou uma religiosa italiana, na Província de Nampula, Diocese de Nacala. D. Juliasse explica que este ataque mostra os avanços dos terroristas no território: “é um sinal grave de que a violência se alastrou. Não podemos falar apenas de terrorismo em Cabo Delgado, mas no norte de Moçambique.”
O bispo que está na diocese desde o início deste ano mostra a sua preocupação sobre estes avanços e sobre o intensificar dos ataques, “a violência não está controlada e nos últimos tempos o terrorismo e os ataques terroristas vão ganhando mais expansão. Antes era só ao nível do território da Província de Cabo Delgado e a parte mais insegura era o Norte da Província, mas agora com os recentes ataques na Província de Nampula, concretamente no centro de Nacala isso monstra que já não há segurança no Norte de Moçambique. E se não houver medidas fortes esta situação pode provocar sofrimento a muito mais pessoas no país.”
A Igreja Católica, através da Cáritas é umas das organizações que mantem maior presença e resposta diária junto da população deslocada – cerca de 1 milhão de pessoas. Perante esta situação e face ao rebentar do conflito na Ucrânia, é uma evidência preocupante a diminuição dos apoios que as organizações estão atualmente a receber. “O que nós vemos em Cabo Delgado é que as ajudas diminuíram consideravelmente. O Programa Mundial de Alimentação que assegura a alimentação para os migrantes deslocados também tem manifestado esta preocupação. Várias outras organizações estão a sentir o mesmo e têm feito os mesmos apelos. Se não tivermos ajuda também para estas grandes Organizações Humanitárias, aquilo que nós fazemos na Diocese de Pemba não vai ter efeitos, porque só em conjunto podemos fazer um trabalho de maior alcance.”
A Cáritas tem neste momento a capacidade de trabalhar de forma autónoma e de prestar uma resposta imediata de emergência, “mas o nosso trabalho é sempre de articulação com o Programa Mundial de Alimentação, e a partir do momento em que os deslocados entram no programa nós podemos ajudar outras pessoas”, explica D. Juliasse que sublinha que só através daarticulação tem sido possível assegurar que entre estes mais de 850 mil deslocados não haja registo de mortes por causa da falta de alimentação.
Quando questionado sobre o medo de que esta situação deixe de ser uma realidade a resposta é perentória: “Sim! Eu receio de que não se garantam os cuidados necessários a estes deslocados porque o mundo já não olha para esta realidade.”
O responsável da Igreja Católica e da Cáritas de Pemba deixa um apelo: “O grande apelo é para que o mundo não se esqueça e claro que não é para fechar os olhos ao que se vive na Ucrânia, mas nestas situações não há sofrimento maior ou menor, sofrimento é sofrimento para todo o ser humano.”