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As memórias de um dos capítulos mais marcantes da solidariedade em Portugal foram evocadas no passado dia 28 de setembro de 2025, com a apresentação do livro “Lares de Esperança – Crianças Cáritas na Diocese de Lamego (1947-1950)”, da autoria de Isabel Costa, Isilda Afonso e Fátima Gouveia, integrada na programação da Festa do Livro, nos Jardins do Palácio de Belém.

A obra reúne histórias de crianças austríacas que, no rescaldo da II Guerra Mundial, atravessaram fronteiras em busca de segurança e encontraram em Portugal um lar de afeto, dignidade e proteção. Entre 1947 e 1950, as famílias da Diocese de Lamego desempenharam um papel fundamental nesse acolhimento, tornando-se símbolo de empatia e solidariedade em tempos de reconstrução.

Durante a apresentação, Rita Valadas, Presidente da Cáritas Portuguesa, lembrou a atualidade do tema: “Infelizmente temos pessoas deslocadas, pessoas acolhidas, em todos os territórios, em todos os tempos”

Referiu ainda que na altura em questão, não existiam condições para as crianças ficarem na Áustria. “Esta iniciativa de se falar com a Igreja, com personalidades daquela altura, e organizar um conjunto enorme de famílias para recolher as crianças, foi algo de extraordinário”.

A presidente da Cáritas, lamenta, no entanto, que hoje em dia, “estamos a colocar à frente dos problemas que decorrem das guerras outras questões menos importantes que a vida das pessoas. Podíamos estar neste momento a salvar muitas mais crianças.”

Para Isabel Costa, Presidente da Cáritas Diocesana de Lamego, a mensagem central do livro “é essencialmente sobre solidariedade, a familiaridade com que as crianças foram acolhidas. Foi um trabalho de união em prol destas crianças, para que depois regressassem aos seus países em melhores condições. Um saber ser e um saber estar, que não podem ser esquecidos.”

Também Isilda Afonso, professora e coautora, destacou que a obra pretende “pôr as pessoas a refletir sobre as crianças, sobre a função delas no futuro, porque o futuro são elas. Este livro procura motivar e sensibilizar para o apoio às crianças que mais necessitam e para que o espírito de família esteja sempre presente.”

Mais do que um registo histórico, “Lares de Esperança” é um testemunho universal sobre a força do acolhimento, recordando que a solidariedade pode transformar vidas e que o espírito humano que marcou Lamego há 75 anos continua a ser uma inspiração para os desafios humanitários do presente.