Empregabilidade como chave de integração
No contexto de pandemia, onde tantas e tantas pessoas perderam seus empregos, o apelo do Papa Francisco é para revermos nossas prioridades. No ano dedicado a São José, marcando os 150 anos de sua declaração como Padroeiro Universal da Igreja, assinalamos este Dia Internacional do Trabalhador, recuperando o pensamento do Papa Francisco quando refere que (…) “Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fracturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento?” Carta Apostólica Patris Corde (Com coração de Pai)
A partir da Caritas Diocesana de Beja realizamos uma acção integral com as pessoas que acompanhamos e juntos, trabalhamos em torno da promoção humana, da melhoria contínua e do desenvolvimento profissional procurando aumentar as possibilidades de inclusão social através da integração laboral, enquadrada em 4 aspectos fundamentais:
- No respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humano e Constituição da República Portuguesa, que dedicam boa parte de seus artigos ao reconhecimento e defesa do direito ao trabalho.
- Nas políticas que protegem e promovem acções voltadas para a colocação de desempregados estão incluídas em várias iniciativas, programas e acordos, como um dos objectivos da Estratégia Europeia centrada directamente no emprego, e outros dois, intimamente ligados a ela, na melhoria dos níveis educacionais e na redução da pobreza.
- No próprio Plano Estratégico da Cáritas Portuguesa que estabelece que se deve “priorizar ações coerentes e significativas para com os últimos e esquecidos, em articulação com as entidades públicas e privadas”, bem como a “promoção da participação das pessoas vulneráveis e em exclusão nos seus processos de desenvolvimento integral, favorecendo a inserção social de pessoas vulneráveis ou em situação de exclusão.
- Na Doutrina Social da Igreja, desenvolvida ao longo de mais de um século, da encíclica “Rerum novarum” até os dias atuais, inclui o direito ao trabalho.
João Paulo II, no “Laborem exercens”, destaca que o trabalho humano é a chave de toda a questão social, se tentarmos realmente vê-la do ponto de vista do bem da pessoa. Já Bento XVI afirmara que “o emprego é uma dimensão fundamental da existência humana. O trabalho é bom para a pessoa, porque, entre outras coisas, realiza e humaniza a pessoa. ”
Assim, consideramos que sem trabalho não há dignidade e é a partir da opção preferencial pelos mais vulneráveis que a Cáritas Diocesana de Beja assume como prioridade na sua atuação o atendimento, acompanhamento, capacitação e intermediação laboral, tendo por base a integração laboral de públicos vulneráveis no mercado de trabalho em estreita relação com as empresas e serviços públicos, criamos desde 2020 um serviço de empregabilidade que tem por base uma metodologia integrada, com uma visão holística da pessoa, que tem por base o atendimento, capacitação, prospecção empresarial e intermediação laboral, que tem permitido a integração dos públicos vulneráveis que atendemos. No âmbito da nossa actuação, procuramos construir uma relação com as empresas que respeitem o trabalho digno, com direitos e que respeite a legislação laboral em vigor, procurando igualmente e tendo em conta que os nossos públicos são pessoas com especificidades e comorbilidades associadas, que haja efectivamente uma responsabilidade social na adaptação do posto de trabalho a eventuais características dos nossos participantes facilitando a sua integração e gerando oportunidades laborais a pessoas com incapacidades, mães solteiras, desempregados de longa duração, pessoas com mais de 45 anos, entre outros. Acreditamos que se os empresários tiverem em atenção a qualidade da vida laboral dos funcionários, que são o recurso mais precioso de uma empresa, contribuem decisivamente para a harmonização entre trabalho e família, cujo factor é determinante para a dignidade da pessoa.
Cada pessoa que acolhemos no serviço de empregabilidade representa uma história de vida, um rosto, um nome. Não é nosso propósito trabalhar tendo por base números, uma vez que a nossa acção é centrada na pessoa procurando que ela seja construtora da sua história e não protagonista dos seus problemas. Nunca ficamos satisfeitos por saber que existe uma pessoa desempregada e com um determinado grau de vulnerabilidade a quem lhe é vedada uma oportunidade de obter uma entrevista em pé de igualdade com outros candidatos. No ano de 2020 atendemos e conhecemos 93 pessoas desempregadas com diferentes vulnerabilidades, conseguimos angariar 60 oportunidades laborais e integrámos 50 pessoas no mercado de trabalho, num total de 36 empresas e entidades visitadas para dar a conhecer a nossa missão na área do emprego. Desde o dia 1 de Janeiro de 2021 já atendemos 20 pessoas, angariamos 17 ofertas de emprego e concretizamos até ao momento 16 integrações laborais num total de 16 empresas novas visitadas,
Apesar de tudo sentimos de uma forma geral, que é necessário fomentar cada vez mais o trabalho em rede, criação de pontes em estreita colaboração com o tecido empresarial e o terceiro sector, ou sector social, de forma a contribuir para uma consciência colectiva de responsabilidade social na área da empregabilidade, que desmistifique alguns estereótipos e preconceitos existentes quanto ao perfil de algumas pessoas acompanhadas pela Cáritas e que se encontram em situação de maior vulnerabilidade e exclusão social, proporcionando um acompanhamento personalizado, colocando a pessoa no centro ao invés de uma economia que “descarta”, só assim é possível criar e construir coisas muito bonitas, e a melhor delas é o de podermos dar sentido à vida, através de um emprego digno que valorize e estime a pessoa.
Márcio Guerra
Cáritas Diocesana de Beja
caritasbeja.pt