Advento: tempo para alargar os horizontes
Se olharmos para o nascimento e para a morte de Cristo com os olhos de hoje, poderemos pensar que ele era um “vencido”. Nascido num estábulo e trinta e três anos depois crucificado pelo seu próprio povo como um qualquer criminoso.
Apesar do seu nascimento humilde e da sua morte humilhante e agonizante, através dos acontecimentos da sua vida, este homem, de origens muito humildes, revolucionou a forma como olhamos os pobres e marginalizados, como pensamos no poder e quem consideramos ser “vencedores” e “vencidos” no nosso mundo.
As viagens de Cristo – enquanto estava no útero da sua mãe, durante a sua vida como pregador, até a cruz, ao seu Pai celestial – falam-nos sobre como encarar hoje as nossas vidas enquanto indivíduos e como comunidades.
Vamos simplesmente aproveitar por um momento este Advento para refletir sobre quantas vezes vemos nas notícias imagens de mulheres migrantes grávidas que atravessam desertos ou que saem de barcos completamente inseguros, sem casa para onde ir. Conseguiremos imaginar-nos a participar na sua viagem ou na viagem migrante de José e Maria para Belém? A cidade não estava preparada para recebê-los ou acomodá-los. Não podia oferecer o cuidado que uma mulher grávida precisava. A Sagrada Família era uma família a mais para esse pequeno lugar.
Podemos colocar-nos no lugar dos pastores que foram visitar o menino Jesus? Eles viviam afastados da sua sociedade, sem instrução e ainda assim os anjos apareceram a eles e não a um rico fazendeiro, e disseram: “Não tenham medo.” A resposta humana pode ser esconder-se com medo quando algo inesperado e inexplicado acontece, mas os pastores foram procurar a criança e depois espalharam a Boa Nova sobre o que viram.
Como Jesus, Maria e José, os pastores e os magos, somos chamados em jornadas que exigem força, perseverança, humanidade, sabedoria e coragem. Nessas jornadas, encontramos pessoas que podemos ser tentados a rotular ou julgar prematuramente como “vencedor” ou “vencido” na vida, sem conhecer a sua história completa nem entender o que ela significa para as nossas vidas.
A única pessoa que parece não participar numa viagem na Natividade é o rei Herodes. Ele fica na segurança do seu palácio e dá ordens para matar todos os meninos em Belém. Ele tenta manter o seu reino usando o seu poder para espalhar o medo e a desconfiança. A Sagrada Família revela novamente o cartão de “vencido” e torna-se numa família de refugiados no Egito.
Quando Jesus, como adulto, nos diz que “o reino de Deus está dentro de ti”, ele está a pedir-nos para abrir os nossos olhos a um mundo onde não há “vencidos”. É nos lugares pequenos e imundos que nascem os nossos réis, não em palácios. As pessoas mais pobres e marginalizadas nas nossas sociedades trazem-nos verdadeiras mensagens de esperança.
Na Cáritas, junto com o Papa Francisco, estamos a pedir ao mundo inteiro que “partilhem a viagem” com os migrantes e refugiados. O primeiro passo é simplesmente ver a outra pessoa na sua plena dignidade, dada por Deus e não desviar o olhar com medo, preconceito ou ódio.
Nesta época do Advento, a nossa campanha “Partilhar a Viagem” convida a expandir os horizontes dos corações, organizando uma curta peregrinação com migrantes e refugiados dentro comunidade. Para que todos possam aprender mais sobre os outros e criar laços de esperança.
Cada uma destas peregrinações fará parte de uma caminhada global de 1 milhão de quilómetros com migrantes e refugiados organizada por pessoas de todo o mundo. É na forma como vivemos as nossas caminhadas pessoais e como tratamos as pessoas que nelas encontramos, que poderemos transformar o nosso mundo.
Ao preparar os nossos corações e mentes para o Natal, lembremo-nos de que a esperança, como os migrantes e os refugiados do nosso mundo, está sempre à nossa frente, guinado o nosso caminho. Ao abrir os olhos para alcançar os outros, descobriremos que os nossos corações são transportados por uma grande onda de amor e o nosso destino será a paz. Isso acontecerá quando nenhuma pessoa nem nenhum país disserem “não há espaço para ti aqui”.
Mensagem de Advento do Cardeal Luís Tagle, presidente da Caritas Internacionalis